3 de abril de 2006

A folha dupla, a folha tripla...

...em um jardim cheio de pés de mamão. Tão perto, as folhas tão verdes e amarelas, azuis contra o sol. Erguemos a cabeça e contemplamos a copa de uma árvore no quadrilátero pequeno da tela e a explosão dos galhos (apenas os detalhes) em busca do beijo da luz. O arco íris íntimo, a criação das cores pela sobreposição de camadas de tinta acrílica.


Palmeiras, pés de abacate e outras árvores espalhadas na cúpula infantil, tão infantil que até duvidamos por um momento do talento do pintor. Eis as folhas coloridas de um dia de sol forte, a copa erguida na grande árvore que espanta a criança e encanta o corante sonhador dos olhos raros do daltônico. Por esta qualidade de criança (memória) e de adulto (a paleta particular do pintor) que possui a incapacidade para diferenciar certas cores, em especial o vermelho é que, pela escolha da tinta acrílica (mais fácil de se misturar) o artista cria a imagem nítida de copas, juntando-se em uma estranha floresta em que as folhas possuem as formas de frutas tenras e macias. As cores (por vezes puras) extraídas limpas dos tubos como polpa suave, vão encontrando o seu caminho na tela, diluídas na água, entrando no tecido e secando após delicados gestos úmidos.

Chuva e sol. Nasce uma planta. Cria-se um caule, multiplicam-se os galhos na certeza das cores puras. O pintor daltônico evita muitas misturas. Como se pintasse com os dedos uma parede de azulejos. Da pequena série de plantas que eu vi, nenhuma possui a estirpe pequena de um vaso encostado na porta de uma casa ou na varanda, ali solitário a espera do sol. Não. O que vi foi um passeio largo por um jardim de árvores altas. As telas pequenas alcançam o vasto e provocam água na boca, pelas folhas e os frutos ali realçados, pela cor pura.


Ulysses, 3 de abril de 2006.

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